Enquanto a maioria dos adolescentes de 13 anos dedicava a noite de segunda-feira a preocupações típicas da idade, Blue Ivy Carter ascendeu a um palco monumental diante de 70 mil espectadores, dividindo os holofotes com sua mãe, a superestrela Beyoncé, na estreia da aguardada turnê "Cowboy Carter". As aparições da jovem ao longo do espetáculo, culminando em uma performance solo eletrizante durante a icônica "Déjà vu", geraram uma onda de elogios e reacenderam a discussão sobre o fenômeno dos "nepo babies" – filhos de celebridades que frequentemente trilham caminhos facilitados para o sucesso.
"Ela deve ser uma das adolescentes mais disciplinadas dos Estados Unidos", cravou Chris Willman, da revista "Variety", ecoando o sentimento de muitos fãs que, nas redes sociais, não hesitaram em coroar Blue Ivy como o "maior nepo baby de todos os tempos", impressionados com sua desenvoltura e coreografia impecável. O termo, antes carregado de conotação pejorativa, parecia ganhar novas nuances diante da performance da jovem Carter.
Se, por um lado, o acesso privilegiado a um palco dos sonhos é inegável, a entrega de Blue Ivy conquistou tanto o público quanto a crítica, levantando uma questão crucial: estamos apenas diante de mais uma herdeira aproveitando o legado dos pais, ou presenciamos o nascimento de uma estrela com brilho próprio?
'Caminho Facilitado' sob Escrutínio
A participação na turnê "Cowboy Carter" não marca a estreia de Blue Ivy nos palcos. Há dois anos, ela já havia acompanhado Beyoncé na turnê "Renaissance", e no ano passado emprestou sua voz à personagem Kiara na animação "Mufasa: O Rei Leão" (2024). Para a jornalista musical Caroline Sullivan, essa trajetória precoce rumo ao estrelato "tem pouco a ver com ela mesma e tudo a ver com os pais".
"É uma questão de o quanto gostamos ou não dos pais — Beyoncé é muito querida, então os fãs elogiam Blue Ivy", analisa Sullivan. "Claro que ajuda o fato de ela ser boa no que faz, mas mesmo que não fosse, teria o caminho facilitado." A jornalista também pondera que a aparente espontaneidade de Blue Ivy no palco, sem sinais de pressão materna, contribui para uma percepção mais positiva por parte do público.
Em contrapartida, Tina Knowles, avó de Blue Ivy e mãe de Beyoncé, declarou à BBC no mês passado que a neta e seus irmãos estão sendo criados para seguir seus próprios desejos, "sem serem forçados ao show business". Ela ressaltou que Blue Ivy precisou "se esforçar" para conquistar o papel na produção da Disney e expressou sua preocupação com o impacto da fama sobre os netos.
Um Legado de Palcos Compartilhados
Blue Ivy não é a primeira criança a dividir o palco com pais famosos. Em 2023, Lourdes Leon, filha de Madonna, tocou piano na turnê "Celebration". Harper Grohl, filha de Dave Grohl, do Foo Fighters, frequentemente canta com o pai em shows, e Nicholas Collins, filho de Phil Collins, integrou a banda do pai como baterista em 2019. "Não é por ele ser meu filho que está na bateria. Ele está ali porque é bom o suficiente", defendeu o ex-baterista do Genesis na época.
Para Sullivan, a participação de filhos em apresentações musicais pode variar entre o "cafona ou constrangedor", se desprovida de propósito, e o "muito fofo e demonstrativo de afeto", quando bem executada. Críticos como Tomas Mier, da "Rolling Stone", apontaram o momento em que Beyoncé levou ao palco sua filha mais nova, Rumi, durante a canção "Protector", como "um dos mais comoventes da noite".
Outros herdeiros também começam a trilhar seus próprios caminhos sob os holofotes. North West, filha de Kim Kardashian e Kanye West, fez uma participação em japonês na música "Childlike things" de FKA Twigs, que elogiou a "energia inspiradora" e a "confiança" da jovem. North também interpretou o jovem Simba em um concerto comemorativo de "O Rei Leão", embora sua performance vocal tenha recebido críticas online. "Como os pais dela são bastante polêmicos, acho que North West vai enfrentar mais resistência para se desvencilhar do rótulo de nepo baby. A não ser que seja extremamente talentosa, será detonada", prevê Sullivan.
O Debate Inflamado sobre Meritocracia e Sobrenomes Famosos
Em dezembro de 2022, uma reportagem de capa da revista "New York" sobre "nepo babies" causou um verdadeiro furor na indústria do entretenimento. A imagem icônica da matéria trazia rostos de atores renomados colados em corpos de bebês, acompanhada da legenda provocativa: "Ela tem os olhos da mãe. E o agente também". A reportagem argumentava que "um nepo baby é a prova viva de que meritocracia é uma mentira" e que, atualmente, esses herdeiros não apenas existiam em grande número, mas também prosperavam.
A matéria gerou uma onda de críticas por parte de diversas celebridades, que consideraram o rótulo injusto e redutor de seus esforços. Gwyneth Paltrow, filha da atriz Blythe Danner e do diretor Bruce Paltrow, classificou o termo como "pejorativo" e defendeu que os filhos de famosos não deveriam ser julgados negativamente por seguir os passos dos pais. "Não há nada de errado em querer fazer o mesmo que seus pais fazem", afirmou. Zoë Kravitz, por sua vez, declarou à "GQ" que é "totalmente normal trabalhar no negócio da família".
Maya Hawke, conhecida por seu papel em "Stranger Things" e filha de Uma Thurman e Ethan Hawke, reconheceu que um sobrenome famoso "traz enormes vantagens", mas alertou que "as chances não são infinitas — é preciso continuar entregando bons resultados. Se fizer um trabalho ruim, as oportunidades acabam". Kate Hudson, filha de Goldie Hawn e Bill Hudson, ponderou ao "Independent" que, apesar dos rótulos, é natural que filhos sigam os caminhos dos pais: "isso não vai mudar".
Talento como Passaporte para o Futuro?
Três anos após a polêmica reportagem da "New York Magazine", os "nepo babies" não apenas não desapareceram, como continuam em destaque, especialmente aqueles que demonstram talento genuíno. Pam Lyddon, executiva de relações públicas da indústria do entretenimento, reconhece que "é inegável que ser bem conectado ajuda muito", mas enfatiza que "conexões só abrem a porta. Para permanecer, é preciso ter talento, trabalhar duro e ser resiliente — os resultados falam por si, e a reputação é tudo".
Lyddon observa que, na nova geração de filhos de famosos, o talento se torna ainda mais crucial, dado o escrutínio mais intenso e a atenção redobrada do público. "Não dá para se esconder atrás da mediocridade."
Com o reconhecimento crescente de Blue Ivy Carter, a credibilidade dos "nepo babies" parece não ter sido abalada. E, se o talento da jovem realmente florescer, ter Beyoncé e Jay-Z como pais pode ser apenas o impulso inicial para um voo ainda mais alto. A performance impactante na estreia da turnê "Cowboy Carter" certamente plantou a semente de uma nova estrela em ascensão, desafiando as antigas narrativas sobre privilégio e mérito no universo do entretenimento.