"LeeGal" Incendeia o Circo Voador: Natascha Falcão e Julia Vargas Revitalizam a Rebeldia de Gal e Rita
Com alma e potência vocal, o show desafia tributos convencionais, unindo desbunde e atitude em reverência a duas lendas da música brasileira.
Por Kaká Amaral
Publicado em 27/04/2025 14:37
Música

Em uma noite que celebrou a força feminina e a atemporalidade da música brasileira, o Circo Voador foi palco da estreia de "LeeGal", um show que transcende a mera homenagem. As cantoras Natascha Falcão e Julia Vargas uniram seus talentos para revisitar os repertórios icônicos de Gal Costa e Rita Lee, entregando uma performance vibrante e carregada de significado na abertura do aguardado show de Simone, na última sexta-feira (26 de abril).

Longe da superficialidade de tributos puramente mercadológicos, "LeeGal" pulsa com a energia e a verdade de duas artistas que compreendem a essência transgressora de suas musas. Natascha, com sua voz potente e calorosa, e Julia, com sua expressividade já conhecida, promoveram um encontro musical que ecoou a ousadia e a liberdade que marcaram as trajetórias de Gal e Rita.

A convergência dos "desbundes" das duas cantoras não é fortuita. Após o marco inicial da Tropicália, onde Gal se consagrou como musa e Rita brilhou como a irreverência dos Mutantes, seus caminhos se cruzaram em momentos significativos, como a gravação de "Me Recuso" por Gal e o dueto em "Mania de Você". Em "LeeGal", essa irmandade se manifesta não apenas no repertório, mas também nos figurinos harmoniosos que sutilmente evocam a identidade visual de cada artista.

Acompanhadas apenas por duas guitarras afiadas, Julia Vargas, talento fluminense, e Natascha Falcão, força pernambucana, demonstraram a expressividade que as credencia como vozes importantes na cena musical contemporânea, em um cenário dominado pelo "pop ralo" do mainstream. Ambas, com seus projetos autorais já lançados, mostram em "LeeGal" que entendem profundamente a mensagem de cada canção.

O roteiro costurou com maestria clássicos como "Esotérico", "Ando Meio Desligado" e "Pagu" (esta última atendendo ao clamor do público no bis). Houve espaço para solos emocionantes, como Julia revivendo "Caso Sério" e Natascha interpretando "Baby". No entanto, o ponto alto foi a união de vozes em canções emblemáticas como "Vapor Barato", com seus arroubos vocais contagiantes, e o hino atemporal "Ovelha Negra".

Em um momento de forte ressonância com o contexto político atual, "Vaca Profana" ganhou nova força nas vozes de Natascha e Julia, transformando-se em um grito contra o conservadorismo e a ascensão da extrema direita global. A sutil alteração na letra por Natascha, direcionando um verso a Simone ("Quero que pinte um amor Simone"), adicionou uma camada de afeto e celebração à noite.

A inteligente justaposição de "Agora Só Falta Você" e "Divino Maravilhoso" no setlist sublinhou as afinidades entre Gal e Rita, duas artistas que, com suas vozes e corpos, desafiaram a moral e o machismo de sua época. Gal, com sua voz cristalina e cortante, e Rita, com sua doçura roqueira, foram precursoras de uma atitude que "LeeGal" soube resgatar com vigor.

"LeeGal" não é apenas um show; é um manifesto musical que potencializa a força e a resistência das almas e vozes de Natascha Falcão e Julia Vargas, reafirmando a relevância e a urgência da arte transgressora de Gal Costa e Rita Lee em pleno 2025.

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