Uma análise abrangente realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 41 suplementos alimentares de creatina disponíveis no mercado brasileiro revelou significativas irregularidades, majoritariamente relacionadas à rotulagem dos produtos. Os resultados da avaliação, divulgados na quarta-feira (23), examinaram a regularidade dos suplementos em três aspectos cruciais: o teor de creatina declarado, a adequação da rotulagem às normas vigentes e a presença de matérias estranhas.
De acordo com o estudo, apenas um único produto, o Creatine Monohydrate - 100% Pure, da marca Atlhetica Nutrition, obteve resultado satisfatório em todas as análises conduzidas.
No que concerne ao teor de creatina, a grande maioria dos produtos (40 dos 41 analisados) demonstrou estar dentro dos limites estabelecidos pela legislação de suplementos. As normas determinam que a quantidade do nutriente pode variar em até 20% em relação ao valor informado no rótulo, além de exigir um conteúdo mínimo de 3.000 mg de creatina por porção. Apenas um produto apresentou teor inferior ao regulamentado.
O cenário foi bastante diferente em relação à rotulagem. Alarmantemente, 40 dos 41 produtos avaliados apresentaram algum tipo de falha. Os problemas mais recorrentes identificados pelos técnicos da Anvisa incluem alegações não autorizadas sobre os efeitos do produto, informações incorretas veiculadas em língua estrangeira e tabelas de informação nutricional que não seguiam o padrão estabelecido.
Adicionalmente, foram detectados rótulos com imagens ou expressões que poderiam induzir o consumidor a erro. Em alguns casos, informações básicas e essenciais para o consumidor estavam ausentes, como a frequência de consumo recomendada, o número de porções contidas na embalagem e as quantidades de açúcares totais e adicionados.
Apesar das irregularidades encontradas, a Anvisa ressalta que os erros de rotulagem identificados não representam um risco imediato à saúde dos consumidores. No entanto, as empresas fabricantes deverão se adequar às disposições da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 843/2024 e da Instrução Normativa (IN) 281/2024, que estabelecem as regras para a rotulagem de suplementos alimentares.
Em contrapartida, a análise da presença de matérias estranhas nos suplementos de creatina não revelou nenhuma inconformidade. Todas as marcas avaliadas obtiveram resultados considerados satisfatórios neste quesito.
O estudo da Anvisa se concentrou em embalagens de 300 gramas de creatina, o formato mais comummente adquirido pelos consumidores, e incluiu as marcas com maior volume de vendas no mercado nacional. A coleta das amostras foi realizada no segundo semestre de 2024, diretamente nas instalações das empresas fabricantes e em pontos de venda no varejo. As análises laboratoriais foram conduzidas pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), um laboratório de referência vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os resultados desta análise servem como um alerta para a indústria de suplementos alimentares sobre a importância da conformidade com as normas de rotulagem, garantindo informações claras e precisas aos consumidores.